AS DIFERENTES CONSCIÊNCIAS E
AS CONSTELAÇÕES FAMILIARES
 
 
 
Quando alguém quer entender e solucionar um problema pessoal com a ajuda das constelações familiares, um problema de relacionamento com um parceiro ou na família com uma criança, reconhecemos imediatamente, qual é a consciência que esse problema provoca e conserva, e o que esses problemas exigem de cada indivíduo e de sua família para uma solução. Aqui precisamos ver as diferentes consciências unidas umas às outras no sentido de que todas estão a serviço de nossas relações. Elas são erigidas umas sobre as outras e se complementam, de forma que precisamos ver um problema e a sua solução relacionadas a várias consciências e por último, a todas.
Por exemplo, se alguém pede a nossa ajuda, podemos reconhecer imediatamente, quais as consciências que estão envolvidas no seu problema e de que forma, e quais as soluções que estão disponíveis.
Inversamente, se um ajudante tem um problema com um cliente, ele pode se perguntar, quais as consciências relativas a ele que estão envolvidas nesse problema e o que elas também lhe oferecem como solução.
 
 
 
A consciência espiritual
 
Em primeiro lugar, observo aqui as Constelações Familiares partindo do fim do caminho percorrido por elas, portanto, do ponto de vista da consciência espiritual. Em retrospectiva ao caminho percorrido até agora, reconhecemos de forma mais clara o significado das outras duas consciências. Reconhecemos também onde é que chegam aos seus limites. A consciência espiritual nos conduz para além desses limites.
 
 
A diferenciação das consciências
 
O que diferencia sobretudo as diferentes consciências, e o que lhes impõe limites? É o alcance de seu amor.
 
A consciência pessoal está a serviço do vínculo a um grupo limitado, exclui outros que não pertencem a esse grupo. Não une somente, também separa. Não ama somente, também rejeita.
 
A consciência coletiva vai para além da consciência pessoal, pois também ama aqueles que foram rejeitados e excluídos dentro da família e dentro de grupos similares pela consciência pessoal. A consciência coletiva quer também trazer de volta os excluídos, para que possam fazer parte novamente. Por isso, o seu amor vai além. Não exclui ninguém.
Contudo, em seu campo de visão não tem tanto o bem-estar de cada um. Senão, não poderia obrigar um inocente que não estava envolvido na exclusão, a representar um excluído, embora com isso lhe imponha algo pesado. Aqui se mostra que essa consciência não é pessoal, mas coletiva, que deseja principalmente a totalidade e a ordem em um grupo.
 
Os movimentos do espírito, ao contrário, se dedicam igualmente a todos. Quem entra em sintonia com os movimentos do espírito não pode fazer de outra forma a não ser se dedicar igualmente a todos com benevolência e amor, não importando qual seja o seu destino. Este amor não conhece fronteiras. Supera as diferenciações entre o melhor ou o pior e entre o bom e o mau. Por isso, supera os limites da consciência pessoal e os limites da consciência coletiva. Está dedicado de forma igual a cada um e a todos em sua família e nos outros grupos dos quais faz parte.
A consciência espiritual vela sobre este amor. Entra em jogo, quando nós nos desviamos dela.
 
 
As Constelações Familiares Espirituais
 
O que isso significa para as constelações familiares? Como esse amor se mostra nas constelações familiares?
 
Em primeiro lugar, chamo a atenção para o fato de que os movimentos do espírito nas constelações familiares se manifestam de uma forma expressiva. Eles são vivenciados e se tornam visíveis através dos representantes, igualmente para aqueles que observam esses movimentos. Isso significa que os movimentos do espírito são percebidos, em primeiro lugar pelos representantes e através deles também por aqueles que observam esses movimentos e talvez eles mesmos sejam atraídos e apanhados por eles.
Por isso, o procedimento das constelações familiares espirituais é um outro, diferente daquele que muitas pessoas associam a elas. Aqui não se coloca mais a família de forma que alguém escolhe de um grupo, representantes para os diversos membros da sua família e depois os coloca num espaço uns em relação aos outros. Aqui se coloca somente uma pessoa, por exemplo, o cliente ou um representante para ele, e talvez ainda uma segunda pessoa, por exemplo, seu parceiro. Contudo, não que este seja colocado no sentido habitual em relação ao outro. Ele também é apenas colocado, por exemplo, a uma certa distância em sua frente. Aqui não existem regras e intenções. O cliente ou seu representante e as outras pessoas adicionais são apenas colocadas.
De repente, são apanhados por um movimento sem que possam conduzi-lo. Esse movimento vem de fora, embora também seja vivenciado como se viesse de dentro. Isso significa que essas pessoas vivenciam estar em sintonia com um movimento que coloca algo em movimento através delas. Entretanto, isso acontece somente se ficarem concentrados, sem intenções próprias e sem medo daquilo que talvez se mostre. Tão logo entrem em jogo as próprias intenções, por exemplo, a intenção de ajudar alguém ou o medo daquilo que possa vir à luz e para onde isso talvez vá conduzir, a ligação com os movimentos do espírito se perde. Também o centramento dos observadores se perde. Por exemplo, ficam inquietos.
Após um certo tempo, através dos movimentos dos representantes mostra-se se é necessário ainda acrescentar uma outra pessoa. Por exemplo, quando um deles olha para o chão, isso significa que está olhando para uma pessoa morta. Então se escolhe um representante e ele é solicitado a se deitar no chão de costas em frente ao outro. Se um representante olha intensamente para uma direção, coloca-se alguém em frente a ele, para onde está olhando.
Os movimentos dos representantes são bem lentos. Tão logo uma pessoa se movimente depressa, está sendo movido por uma intenção e não está mais em sintonia com os movimentos do espírito. Ele não está mais centrado e não é mais confiável, precisamos substituí-lo por um outro representante.
Sobretudo o constelador precisa abster-se de suas intenções e interpretações. Ele também se deixa ser apanhado pelos movimentos do espírito. Isto é, ele só age, deixando ser movimentado claramente para um próximo passo ou para uma frase, que ele mesmo diz ou deixa que um representante a diga.
Além disso, recebe continuamente através dos movimentos dos representantes indicações daquilo que está acontecendo dentro deles e para onde os seus movimentos conduzem ou devem conduzir.
Por exemplo, quando um representante se afasta do representante de uma pessoa morta que está deitada à sua frente ou quer se virar, o constelador interfere, depois de um certo tempo e o conduz de volta. Contudo, não de uma forma que, ao seguir esse procedimento, o constelador deva deixar tudo ao critério dos movimentos dos representantes. Ele está, como eles, a serviço dos movimentos do espírito e os segue, muitas vezes irresistivelmente, quando interfere de uma determinada forma ou diz algo.
No final para onde conduzem esses movimentos do espírito? Eles unem o que antes estava separado. São sempre movimentos do amor.
Esses movimentos não precisam ser levados sempre até o fim. É o suficiente quando fica visível para onde conduzem. Por isso, essas constelações muitas vezes permanecem incompletas e abertas. É o suficiente que tenham entrado em movimento. Nós precisamos confiar que elas prosseguirão. Pois estes movimentos não mostram apenas algo, por exemplo, a solução para um determinado problema. Eles já são os movimentos de cura decisivos, e como a cura, precisam, via de regra, também o seu tempo. São o início de um movimento de cura.
As constelações familiares em sintonia com os movimentos do espírito pressupõem que sobretudo o constelador permaneça em sintonia com esses movimentos. Isto é, que em primeiro lugar permaneça dedicado a todos com o mesmo amor, para além dos limites da diferenciação entre o bom e o mau. Ele só pode fazer isso, se tiver aprendido a prestar atenção aos movimentos do espírito dentro de si, de forma que percebe imediatamente quando se desviou do amor. Por exemplo, quando quer internamente atribuir a culpa a um acontecimento ou quando tem pena da pessoa por aquilo que ela precisa sofrer. Desvios desse amor vivenciamos conosco continuamente. Entretanto, nós seremos reconduzidos à sintonia com o seu movimento do amor por tudo aquilo, assim como é, depois que tivermos aprendido a prestar atenção aos movimentos da consciência espiritual e nos sujeitarmos à sua disciplina.
 
 
A consciência pessoal
 
Os limites mais estreitos contra o amor são traçados pela consciência pessoal. Pois as nossas diferenciações usuais entre o direito de pertencer ou a sua perda são determinadas e aprovadas por essa consciência.
É evidente, que essa diferenciação tem um significado importante para a nossa sobrevivência, não podendo ser substituída por nada, dentro de determinados limites.
Essa consciência coloca seus limites principalmente em relação às crianças. Para as crianças, a realização das formas de pensamento e comportamento exigidas por essa consciência é importante para a sua sobrevivência, inclusive a desconfiança em relação àqueles que seguem uma outra consciência pessoal, porque estão ligadas a um outro grupo, rejeitando-os e lutando contra eles.
Essa consciência, como uma boa consciência, por um lado, possibilita e assegura a sobrevivência; por outro lado, a coloca em perigo logo que o nosso grupo entra em conflito com outros, estabelecendo disputas mortais com eles.
Na consciência pessoal também reside a necessidade do equilíbrio. Essa necessidade é um movimento da consciência, pois temos uma boa consciência, quando devolvemos algo equivalente àqueles que nos deram algo, de forma que exista um equilíbrio entre o dar e o receber. Temos também a mesma boa consciência quando não podendo devolver algo equivalente, transmitimos a outros algo equivalente.
Em conformidade com isso temos uma má consciência, quando recebemos sem dar algo equivalente ou quando fazemos exigências que não nos competem.
Aqui também a consciência pessoal tem uma tarefa fundamental a serviço de nossas relações. Sim, essa necessidade é que torna isso possível. Essa necessidade também está a serviço de nossa sobrevivência, entretanto apenas dentro de determinados limites.
Em sua função de equilíbrio, a consciência pessoal, de modo semelhante à sua função de nos ligar à nossa família, também serve tanto à vida e à sobrevivência, como também serve ao oposto, quando determinados limites forem transgredidos. Aqui leva também à morte.
A consciência pessoal com referência ao vínculo, foi a separação de outros grupos que pode levar a conflitos graves, inclusive à guerra.
Com referência à necessidade do equilíbrio, é a expansão dessa necessidade de equilíbrio quanto ao prejuízo e ofensa mútuos, chegando até à vingança mortal, por exemplo, a vingança pelo sangue.
A necessidade de expiação segue a mesma direção, quando para expiar pelo sofrimento e prejuízo que causamos a outros, também nos inflingimos um sofrimento, nos limitamos e nos prejudicamos.
Nesse contexto pertence também a expiação substitutiva. Por exemplo, quando uma criança expia pelos pais, mas também quando a mãe ou o pai espera de uma criança que ela expie por eles. Por exemplo, quando fica doente ou morre no lugar deles, como podemos observar muitas vezes nas constelações familiares. Entretanto, isso acontece de forma inconsciente de ambos os lados, pois aqui a consciência coletiva também é importante.
Contudo, sempre se trata de um equilíbrio, que se opõe à vida, que a prejudica ou até mesmo a sacrifica – de boa consciência ou com o sentimento de inocência.
 
Ao que precisamos prestar atenção nas constelações familiares, para que fiquemos dentro dos limites da consciência pessoal que está a serviço da vida? Precisamos ter deixado para trás os limites da diferenciação entre o bom e o mau. Se nas constelações familiares permanecermos na esfera da consciência pessoal, por exemplo, quando junto com o cliente rejeitamos outros, estaremos a serviço da vida de uma forma limitada. Então, como essa consciência estaremos a serviço, por um lado, da vida e por outro, da morte.
 
 
 
 
A consciência coletiva
 
 
A que devemos prestar atenção nas constelações familiares em relação à consciência coletiva?
Em primeiro lugar, que não excluamos ninguém nem em nossa nem na família do cliente e que procuremos na família dele e na nossa pelos excluídos, olhemos para eles com amor e os coloquemos, com amor, em nosso coração. Podemos fazer isso somente se tivermos deixado para trás a diferenciação entre o bom e o mau e se também colocarmos as nossas crianças não nascidas no nosso campo de visão, mesmo que isso seja difícil para nós. Aqui é necessário tanto a coragem como também a clareza.
Em segundo lugar, que nós nos atenhamos à hierarquia. Isto é, que em primeiro lugar fiquemos conscientes de que através de nossa ajuda nos tornamos temporariamente um membro da família do cliente. Contudo, nós chegamos nessa família como o último e por isso temos o último lugar dentro dela.
O que acontece, quando um ajudante se comporta como se tivesse o primeiro lugar, até ainda antes e acima dos pais do cliente? Ele fracassa. O cliente também fracassa, quando ele fere a hierarquia e o ajudante talvez até o apóie nisso. Por exemplo, quando junto com o cliente de uma ou outra forma se coloca contra os seus pais.
A violação da hierarquia algumas vezes coloca a vida em perigo também. Por exemplo, quando o cliente assumiu algo pelos pais, o que não lhe competia, de acordo com a hierarquia. Então algumas vezes, diz para seus pais: “Eu, no lugar de vocês...”
Também para o ajudante a violação contra a hierarquia pode ser perigoso. Por exemplo, quando ele se arroga assumir algo pelo cliente, algo que ele precisa carregar sozinho. Então se eleva acima do cliente, como talvez acima dos seus pais e como o ajudante tenha tentado fazer quando criança aos seus pais. Mas, principalmente, quando o ajudante se arroga, que poderia virar o destino de um cliente ou proteger o seu cliente.
Somente dentro da hierarquia o ajudante permanece em sua força e o cliente encontra a solução que lhe é adequada, aqui em sentido duplo.
Com referência à consciência coletiva só precisamos ficar dentro dos limites que ela nos coloca nas constelações familiares, pois esses limites são amplos e abertos.
 
 
 
CONCLUSÃO
 
 
Nas constelações familiares a consciência espiritual, através de seu amor por todos, nos conduz para além dos limites da consciência pessoal. Também nos protege para não desrespeitarmos os limites da consciência coletiva, pois ela está dedicada a todos da mesma forma. Ela presta especial atenção à hierarquia porque sabemos, quando seguimos os movimentos do espírito, que somos todos iguais e equivalentes, com todos no mesmo nível, embaixo.
Nas constelações familiares espirituais permacecemos sempre no amor, sempre no amor total. Somente as constelações familiares espirituais estão sempre a serviço, em todos os lugares e unicamente a serviço da vida – e do amor – e da paz.
 
Tradução de Tsuyuko Jinno-Spelter – Mar/Abr. 2007.
Revisão: Wilma Costa G. Oliveira

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