O Amor infantil

O Amor infantil

No processo de amadurecimento, uma das primeiras coisas que percebemos e relutamos em abrir mão é a forma como o afeto chega até a gente. Se na infância fomos supridos em nossas expectativas de forma abundante (o que é normal e necessário no início da vida) aos poucos os pais vão alterando a forma de troca, para estabelecer novas informações necessárias para o desenvolvimento dos filhos. Bert Hellinger fala sobre isso no seu livro “O Amor do Espírito”:
“O arquétipo da ajuda acontece na relação entre pais e filhos, principalmente, entre mãe e filho. Os pais dão, os filhos tomam. Os pais são grandes, superiores e ricos; os filhos pequenos, necessitados e pobres. Entretanto, porque pais e filhos estão ligados por um profundo amor mútuo, o dar e o tomar entre eles pode ser quase ilimitado. Os filhos podem esperar quase tudo de seus pais. Estes estão dispostos a dar quase tudo aos seus filhos. Na relação entre pais e filhos as expectativas dos filhos e a prontidão dos pais para atendê-las são necessárias e por isso, estão em ordem.
 Entretanto, estão em ordem enquanto os filhos ainda são pequenos. Com o avançar da idade os pais vão colocando limites aos filhos, com os quais estes podem entrar em atrito, amadurecendo dessa forma.
 Então os pais são menos amorosos com os seus filhos? Seriam pais melhores se não colocassem limites? Ou provam ser bons pais justamente porque exigem de seus filhos algo que os prepara para uma vida de adultos? Muitos filhos ficam então com raiva de seus pais porque preferem manter a dependência original. Contudo, justamente porque os pais se retraem e desiludem essas expectativas, ajudam seus filhos a se libertarem dessa dependência e, passo a passo, agirem por própria responsabilidade. Somente assim os filhos tomam o seu lugar no mundo dos adultos e se transformam de tomadores em doadores.”

Muitos filhos relutam em aceitar essa troca, confundido esse endurecimento dos pais como falta de amor. É a criança interna que briga e bate o pé por algo que ela quer e não aceita trocar. E com essa crença, sofrem por muito tempo um sofrimento auto-imposto e que retira a força de viver.
Muitas vezes é assim que o filho  deixar de buscar nos pais o que ainda é necessário ao seu desenvolvimento, além dos tesouros escondidos na relação diária. Na nossa fantasia de criança, julgamos a qualidade do amor que vem de nossos pais, como se eles pudessem ter sido diferentes. E então, entramos num caminho pesado, onde queremos nos separar dos pais, numa tentativa de esquecer a dor que isso causa. Esse movimento é muito difícil.
Conseguir cultivar o que foi possível receber dos nossos pais, com aceitação ao que se mostrou e com a compreensão que nossos pais fizeram o melhor que puderam,  é um bom lugar para iniciar a cura da alma.
Todos os filhos amam seus pais, e é muito difícil viver de forma plena quando tentamos nos convencer do contrário.

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